sábado, 22 de maio de 2010

Falar muito e não dizer nada



É com grande poder dialético cognitivo que venho tratar de um tema deveras importante: a arte de falar muito e não dizer nada. Para os que pensam que isso é fácil, vou logo pedindo para que tirem seus eqüinos da chuva, porque é preciso ter muita técnica para atingir a tal patamar da falta de conteúdo. Ou você acha que os pseudo-intelectuais não ralaram para chegar a ser o que são? Ora bolas, caros leitores desse blog “tão produtivo”. Não quero tratar aqui de pessoas comuns como jogadores de futebol que dão sempre a mesma resposta para todas as perguntas e não dizem nada de interessante. Eles falam pouco e não dizem nada. Mas venho falar daquele querido amigo da faculdade que rouba pelo menos vinte minutos da aula pra expor suas opiniões. Fala, fala, e fala, e no final das contas ninguém entendeu bulhufas. Ou então repetir em outras palavras, estas sempre rebuscadas, tudo o que o professor acabou de dizer. Esse mal afeta até mesmo os escritores sem inspiração, como o ex-bom autor de novelas Manoel Carlos, cujas personagens femininas falam muito e não dizem nada. Afeta a mim, universitário preguiçoso que encho lingüiça nas provas e por vezes até me dou bem. E até mesmo estudantes esforçados que precisam escrever suas monografias e que a esticam de todas as formas, pondo uma dedicatória imensa, agradecendo até o papagaio, e estendendo o desenvolvimento até onde não der mais para enrolar. E o que dizer da Luciana Gimenez com seus convidados pseudo-intelectuais (um travesti, uma dançarina, um ex-ator global falido, uma mulher fruta e alguma outra celebridade falida que fez um filme pornô) discutindo algum tema polêmico da sociedade? Isso é uma arte! Não é qualquer um que pode dar uma de Silvio Santos, apresentar o mesmo programa dos últimos vinte anos no final de semana, fazer as brincadeiras mais batidas, não dizer nada de construtivo e conseguir prender a atenção de milhões de donas de casa. E outras dezenas de programas dominicais que tenham o mesmo estilo. Como último exemplo e com maior destaque, palmas ou vaias, como quiserem, para os bispos da igreja universal que reúnem milhares de pessoas dentro de alguma igreja imensa cuja obra se realizou graças a sua formidável eloqüência de falarem muito e não dizerem nada. E mesmo assim conquistarem a cada segundo mais uma pobre alma que dá até o seu dinheiro da passagem em troca de uma benção. Ou você acha que não foi preciso muito trabalho para que o R.R. Soares se tornasse o homem que mais aparece( e mais fala) na TV brasileira? Pois bem, meus caros. É preciso muita cautela para que se use essa poderosa ferramenta que pode te transformar num ídolo ou num ser humano indesejável em qualquer ambiente. O segredo é encontrar aquele sujeito que sabe menos que você. É se meter na discussão de indivíduos analfabetos funcionais desprovidos de senso crítico, poder falar tudo o que você quiser e no final da conversa sair com fama de intelectual. Capriche na retórica e leia muito o dicionário para empregar palavras complicadas, que mesmo que não expressem o que você quer dizer, fiquem bonitas na frase. Afinal, se for falar muito, tem que falar bonito.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Nada para fazer



Depois de um hiato em que quase terminei com o “Crônicas sobre o nada”, decidi ressuscitá-lo. Confesso que sou apaixonado pelo nada e que o motivo de ter abandonado minha tão querida verve que gerou esse blog, foi a minha maldita preguiça. Nem mesmo foi a falta de inspiração, pois ainda estou cheio de idéias para novos posts. Mas o problema é que a falta de ter o que fazer me deixou acomodado. E para não quebrar o meu tão querido ócio, não postei mais nada. Mas... Agora que me dispus a voltar a escrever, decidi falar sobre o motivo que me fez parar. A FALTA DE TER O QUE FAZER! Isso não é um problema só meu, pois acredito que afeta a mais da metade da população mundial, e filosoficamente falando, achei o principio desse mal. Reza a lenda que Deus criou tudo do nada. Logo ele não tinha nada para fazer. Piorando ainda mais a situação ele criou o homem. E este por sua vez, sem nada para fazer na terra, pediu a Deus que lhe desse uma companheira. Aí veio a mulher. Adão e Eva sem nada para fazer no paraíso acabaram fazendo o que não presta. E nós, segundo a bíblia, meros mortais, ainda pagamos pelos erros do casal. Através desses exemplos posso deduzir que quando você não tem nada para fazer, coisa boa não vai sair. Afinal, o ócio pode até ser produtivo, mas no momento em que se produz algo ele deixa de ser ócio e você logo está fazendo alguma coisa. O que quero tratar nesse post é do nada como matéria-prima da vagabundagem. Como a razão de você sentar no sofá, zapear pelos canais no domingo à tarde e engordar 5 quilos no final de semana. O mais perigoso na falta de ter o que fazer é que quando você encontra algo que possa ser realmente produtivo, o espírito da vagabundagem já tomou conta do seu corpo. Ele não te deixa levantar do sofá mesmo que você saiba que precisa fazer aquela resenha da faculdade, ou estudar para uma prova importante. E quando o estágio da possessão está mais avançado, ele não deixa você ler mais nenhum texto que precisa para assistir a aula do professor mais rigoroso e te faz dormir injetando na sua alma o sono mais profundo que nem a mosca Tsé-tsé seria capaz de injetar. Fazendo com que isso se torne um ciclo vicioso e que você perca o controle da sua vida. Então, falando por experiência própria, livrem-se desse mal. Olhem-se no espelho e se verem que estão com cara de jovens idosos, com uma barriga de homem aposentado, e se sentirem preguiça até em falar com um amigo ou explicar algo que aconteceu durante o seu dia. Dirijam-se a primeira igreja universal que verem aberta, ou ao primeiro pai de santo, ou ao primeiro centro espírita, ou para aqueles são ateus, ao primeiro terapeuta. Porque senão o espírito da vagabundagem irá dominá-los de tal maneira que depois será difícil vencê-lo. E terminarão como eu, que mesmo estando em tratamento, tenho os meus momentos de abstinência. Em que, por exemplo, estou há um mês tentando tomar coragem de ir no barbeiro da esquina para cortar o cabelo.