terça-feira, 1 de novembro de 2011

Nada para dizer


Algumas pessoas sentem-se na obrigação de dizer algo profundo em momentos que exigem um pouco mais de sensibilidade e por fim acabam por arruinar esses momentos. Pois bem, meus caros, confesso me encaixo nessa estatística. E garanto que não estou sozinho. Acredito que assim como eu, existe gente que não tem nenhum talento para ser psicólogo, pois poderia ser responsável pelo suicídio de todos os seus pacientes. Fiquem calmos, não sou um maníaco depressivo (mesmo sendo fã de Radiohead) que acha que a vida é um lixo, mas o problema é que não sou um indivíduo que possui os melhores conselhos a serem dados. Todo mundo já deve ter passado por uma situação que exigisse palavras bonitas e juntas numa frase seriam muito mais reconfortantes do que um simples abraço. Falta de ter algo para dizer pode gerar efeitos colaterais catastróficos se um sujeito se arriscar a abrir a boca sem ter algo em mente a ser dito. O disk ajuda psicológica poderia dizimar mais vidas que o nazismo dizimou se não tivesse pessoas talentosas e com muitos conselhos a dar às pobres almas que ligam em busca de ajuda. A verdade é que atacar de psicólogo do Paraguai é uma arte que poucos conseguem dominar. Pessoas que não possuem esse dom podem ser julgadas de maneira errônea e taxadas como seres humanos insensíveis. Quem nunca contou um problema sério a um amigo e o mesmo não disse muito mais do que uma simples interjeição de que " eu ouvi tudo o que você disse, mas não tenho nada para te dizer"? Pois bem, caros leitores, não odeiem esses seres por isso. Já que é muito melhor um amigo aparentemente relapso do que um que acaba por falar coisas tão absurdas e pessimistas que mais parece querer a sua desgraça a ter que lhe dizer algumas frases de consolo. Não vou cair no senso comum do velho ditado: " Se conselho fosse bom, não se dava, se vendia". E quem disse que conselhos não se vendem? Afinal, você acha que os pastores que apresentam o "Fala que eu te escuto" estão ali de graça? Conselhos se vendem sim, e por um preço altíssimo. Basta ver o quanto a Igreja Universal fatura com os seus pobres fiéis cheios de problemas e sem rumo na vida que procuram qualquer um que lhes diga o que fazer para quitar aquele empréstimo no banco. E é por esse pressuposto que homens de má índole, diga-se de passagem religiosos e não religiões, aproveitam-se da insegurança e fragilidade de seus fiéis para obter lucro. Enfim, a única solução que encontrei é dar uma de atendente de telemarketing e transferir o amigo para algum Pai de Santo (se ele fosse umbandista), para algum médium (se ele for espírita), ou se for ateu, indique um bom psicanalista. Antes brincar de passa ou repassa do que responder errado e acabar perdendo a amizade. Ou então arriscar dar aquele tosco apoio moral e decorar frases estratégicas que te ajudem na hora de não ter o que dizer. Como: "Meus pêsames!", "Calma que tudo vai acabar bem", "Faz parte da vida", "Dê tempo ao tempo" e a pior de todas "Deus sabe o que faz". Para esta última frase tome muito cuidado antes de usá-la. Afinal, não se deve dizer isso para um amigo que perdeu um ente querido vítima de bala perdida, ou perdeu a mulher para o melhor amigo, ou perdeu as pernas, ou ficou impotente sexualmente. Em caso de dúvidas, então capriche nas expressões de dor, sofrimento ou indignação a fim de demonstrar empatia.