terça-feira, 31 de março de 2009

Nada no bolso



Para algumas pessoas a crise econômica da qual o mundo está passando não é nenhuma novidade. Já que em suas vidas a falta de dinheiro se tornou uma rotina. Mais exatamente nos últimos dias do mês. Isso se deve à falta de planejamento econômico daqueles que não possuem controle sobre o próprio bolso. Uma linha tênue da qual estão contidos o cheque especial e todas as formas de parcelamento do cartão de crédito. Um indivíduo nessa situação não precisa nem ao menos abrir a carteira no Rio de Janeiro para o seu dinheiro simplesmente evaporar. Digamos que seja um pouco inútil ir ao banco tirar o próprio pagamento, já que ele está destinado até o seu último centavo a quitar todas as dívidas que você adquiriu durante o mês anterior. Mas o que está em destaque aqui é justamente o fim do mês. Aqueles últimos dias da segunda quinzena em que você valoriza até mesmo o ser mais desprezível que existe, a moeda de 1 centavo. Será que ela existe ainda? Parece meio que uma lenda, mas uma nota de 100 reais e uma moeda de 1 centavo são mais difíceis de se encontrar do que um beija-flor numa área urbana, ou um político que não seja corrupto. A nota de 100 reais virou celebridade, quando ela passa todos ficam eufóricos, ela dá o ar da sua presença e logo vai embora. Não existe coisa pior que olhar para o seu porquinho, ver que ele já fez mais plásticas que o Michael Jackson e que não há mais de onde tirar dinheiro. Quem nunca brincou com o salário fantasiando não ter absolutamente nenhuma dívida para pagar? É duro, meus caros, mas a crise do fim do mês é pior que a crise econômica. Você passa a catar no fundo da bolsa aquelas moedinhas esquecidas durante todo o mês para poder juntar e pedir um lanche pelo telefone no sábado à noite. Tem que passar pelo perigo de pagar o almoço no cartão de crédito rezando para que o limite não esteja estourado e que você não fique no restaurante para lavar os pratos. Ou estar com o dinheiro da passagem contado, torcendo para que nenhum imprevisto aconteça e que você não tenha que andar quilômetros até chegar em casa. Não existe coisa mais deprimente que olhar para a geladeira e perceber que as compras do mês se foram antes mesmo de ele acabar e querer inventar um novo prato feito dos restos de ingredientes que nela sobreviveram. A crise está aí assustando a todos, mas a dureza do fim do mês sempre existiu. E se não soubermos nos controlar, um pivete imaginário entrará em nossas casas e assaltará as nossas geladeiras, depenará as nossas carteiras, irá estourar o nosso limite do cartão de crédito. E quando a gente perceber não há mais nada no bolso, nem mesmo só para comprar uma raspadinha e depois ter que raspá-la com o dedo, já que não existe mais aquela moedinha de um centavo que só servia pra isso. E tudo o que restou foi a nossa esperança de que no mês que vem o nosso dinheiro dure até ele virar. Mas enquanto isso a gente é que se vira.