quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

O nada na arte


Quem nunca olhou para um quadro numa galeria de arte e ficou com cara de paisagem? E aí você se pergunta: mas porque tem tanta gente que venera esse artista se ele só fez uns rabiscos que não tem nada a ver com nada? Pois é, meu caro, o nada tem o seu valor. Ou você acha que Pollock se tornou um dos maiores pintores do século XX por quê? Para nós, seres normais com um poder de abstração limitado, é muito difícil ver o nada como algo complexo. É preciso um certo número de neurônios trabalhando duramente para que um cérebro entenda uma dança contemporânea da qual os dançarinos se jogam no chão, imitam papagaios, pulam como loucos e depois a crítica especializada diz que aquilo foi genial. Quem nunca ficou entediado lendo um poema de Rimbaud e se sentiu um ser completamente burro? Se você não possui uma sensibilidade homérica para interpretar a arte sem se questionar se aquilo faz sentido ou não, então fuja das peças de Gerald Thomas, não tente entender muitos artistas de vanguarda, e nem as reflexões de Nietzsche, porque ele por mais que tenha sido um gênio, não te faz chegar à conclusão alguma. Se o nada fosse um ser humano, ele seria um homem apático. Um daqueles seres que vivem em centros culturais vendo filmes cult nas salas de vídeo gratuitas, com seus óculos de armação quadrada, suas eternas caras assexuadas, suas calças xadrez e os seus discursos incompreensíveis. Imagine aquele seu amigo da faculdade que ninguém mais suporta por não conseguir fazer com que ele concorde com algo ou porque ele pára a aula para discutir com o professor sobre algum conceito histórico justamente porque ele acredita que nada seja real, o nada seria assim. Essas indagações nos levam a refletir que na arte tudo já foi explorado. Restando ao artista o nada como tema. Se você quer se mostrar um sujeito culto, então por mais que ache totalmente retardada alguma letra de música da Regina Spektor, não fale para ninguém sobre aquela canção dos anos 80 que te tocou e nem sobre aquele romance do Sidney Sheldon que te fez ter uma crise existencial. Porque isso está mais que ultrapassado. Para todas as representações do nada na arte tenha sempre em seu discurso a seguinte frase de todo pseudo-intelectual: “Mas isso não era para entender, era para sentir”. E não fique se achando um merda se você não entendeu o final de Amnésia. Porque eu também não entendi nada.