É com grande poder dialético cognitivo que venho tratar de um tema deveras importante: a arte de falar muito e não dizer nada. Para os que pensam que isso é fácil, vou logo pedindo para que tirem seus eqüinos da chuva, porque é preciso ter muita técnica para atingir a tal patamar da falta de conteúdo. Ou você acha que os pseudo-intelectuais não ralaram para chegar a ser o que são? Ora bolas, caros leitores desse blog “tão produtivo”. Não quero tratar aqui de pessoas comuns como jogadores de futebol que dão sempre a mesma resposta para todas as perguntas e não dizem nada de interessante. Eles falam pouco e não dizem nada. Mas venho falar daquele querido amigo da faculdade que rouba pelo menos vinte minutos da aula pra expor suas opiniões. Fala, fala, e fala, e no final das contas ninguém entendeu bulhufas. Ou então repetir em outras palavras, estas sempre rebuscadas, tudo o que o professor acabou de dizer. Esse mal afeta até mesmo os escritores sem inspiração, como o ex-bom autor de novelas Manoel Carlos, cujas personagens femininas falam muito e não dizem nada. Afeta a mim, universitário preguiçoso que encho lingüiça nas provas e por vezes até me dou bem. E até mesmo estudantes esforçados que precisam escrever suas monografias e que a esticam de todas as formas, pondo uma dedicatória imensa, agradecendo até o papagaio, e estendendo o desenvolvimento até onde não der mais para enrolar. E o que dizer da Luciana Gimenez com seus convidados pseudo-intelectuais (um travesti, uma dançarina, um ex-ator global falido, uma mulher fruta e alguma outra celebridade falida que fez um filme pornô) discutindo algum tema polêmico da sociedade? Isso é uma arte! Não é qualquer um que pode dar uma de Silvio Santos, apresentar o mesmo programa dos últimos vinte anos no final de semana, fazer as brincadeiras mais batidas, não dizer nada de construtivo e conseguir prender a atenção de milhões de donas de casa. E outras dezenas de programas dominicais que tenham o mesmo estilo. Como último exemplo e com maior destaque, palmas ou vaias, como quiserem, para os bispos da igreja universal que reúnem milhares de pessoas dentro de alguma igreja imensa cuja obra se realizou graças a sua formidável eloqüência de falarem muito e não dizerem nada. E mesmo assim conquistarem a cada segundo mais uma pobre alma que dá até o seu dinheiro da passagem em troca de uma benção. Ou você acha que não foi preciso muito trabalho para que o R.R. Soares se tornasse o homem que mais aparece( e mais fala) na TV brasileira? Pois bem, meus caros. É preciso muita cautela para que se use essa poderosa ferramenta que pode te transformar num ídolo ou num ser humano indesejável em qualquer ambiente. O segredo é encontrar aquele sujeito que sabe menos que você. É se meter na discussão de indivíduos analfabetos funcionais desprovidos de senso crítico, poder falar tudo o que você quiser e no final da conversa sair com fama de intelectual. Capriche na retórica e leia muito o dicionário para empregar palavras complicadas, que mesmo que não expressem o que você quer dizer, fiquem bonitas na frase. Afinal, se for falar muito, tem que falar bonito.
sábado, 22 de maio de 2010
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